sexta-feira, 1 de novembro de 2013

A Beata Boateira

A Beata Boateira
Wesley Faria

Todos os dias ela passava,
Livro bento sob o braço,
No cabelo um rubro laço
E na língua uma navalha.

Faz a feira bem cedinho,
Acorda com os passarinhos,
Diz amém ao criador
E vai desfilar sua saia,
Seu ouvido de fornalha,
Sua mente de motor.

Sempre fazia piadas,
Comenta com a cara limpa
Que esse e aquele não presta,
Não é bom, não vale nada,
Só sua vida que é linda.

Na missa o primeiro banco,
As sextas feiras, o branco
E aos sábados comunhão,
À todos diz que a pureza,
Que a paz e a leveza
Recheiam seu coração.

Todo mundo sempre diz:
- Lá vai ela, a beata, 
ohh mulherzinha sensata,
brilhante e de pé no chão.
É quando ela gosta mais,
Sorri e nem olha pra trás,
A noite descansa até mais
Sua cabeça no colchão.

É tudo lindo a primeira vista,
Mas quem conhece bem que o diga,
É tudo moldura de quadro,
E com a madeira já podre,

Essa beata bendita,
Fala mal no pé da nuca,
Do nascer do sol vermelho
Ao cair da arapuca.

Tem nojo até de criança,
Chega a lavar a mão
Quando pega recém nascido
Na frente da procissão.

Conta um caso de um caboclo,
Que namorou a beata,
Ele caminhava bastante
E não podia ficar,
Diz que a beata sabia
Que a estrada era a guia
Daquele caboclo do ar.

Mas ela não aceitou,
Fez que não ligou
E o romance terminou,
Ele, branco como giz,
Sorriu de orelha a orelha
Em saber que a beata
Ao invés de zumbir feito abelha,
Desejou final feliz.

Ela fazendo média,
Começou a falar mal,
Dizendo que o caboclo
Era um sujeito pagão,
Feio qual o diabo,
Malvado que só o cão.

No outro dia a beata
Continuava na lida,
Ia e vinha na feira,
Sem ninguém desconfiar
Que sua vidinha pacata,
Era um casulo de lagarta
Prestes a se transformar.

Mas a fama não é sua amiga,
E a beatinha bendita
Não demora a escorregar.

Hoje ela ainda caminha
Com mais umas três beatinhas,
Para ajudar a falar,
Afinal a história boa,
É quando tem um cabra pra ouvir,
E outro pra confirmar.

Eita beata prendada
Mas aprendeu tudo errado,
Não sabe que ao falar batatada
Não pode esquecer do quiabo,
Santa assim desse jeito,
Só o diabo merece,
E dizem que ele até se apressa
Quando a beata faz prece.




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