terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Uma canção ao grande amor

Uma canção ao grande amorW.Faria
Para cantar ao grande amor é preciso um bocado de dor,
É preciso um choro constante para cantar ao grande amor.
Quando a lágrima está inerte os versos não aparecem,
É preciso mover-se líquido para surgir o intangível,
Lágrima que é lágrima só é boa quando precede o sentimento.
Para cantar ao grande amor é preciso ouvir com cuidado o som da noite,
Além de entender que as notas mais simples são as mais puras.
É preciso aprender que enquanto o pássaro cantar mais alto que suas palavras a canção será inaudível,
É preciso deixar seu coração gritar por meio da tua melodia.
Para cantar ao grande amor é preciso um bocado de paixão na voz,
Um bocado de dor no peito e um bocado de bem-querer no olhar.
Quando tudo estiver finalizado e os versos prontos em sua mente,
É preciso compreender que para fazer-se entender ao grande amor
Não é preciso ser musico, poeta ou fingidor,
Precisa-se apenas de um gesto com carinho de criança

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Queda

Queda
W.Faria

Sinto de súbito uma antiga vontade de viver. Algo não está no lugar, percebo as árvores, os pássaros e até mesmo os pequeno insetos, cujos ruídos eram outrora inaudíveis por mim. Sinto de súbito uma antiga vontade de voar, como se o horizonte não estivesse mais amarrado aos galhos do arbusto mais longínquo que posso enxergar. O horizonte de hoje é aquele que não se prende, é aquele que redesenho a cada passo que dou, um puro amor confortável me tomou as veias nesta manhã, notei um quadro que sempre esteve lá, na mesma parede, mal acabada pelo tempo e corroída pelas várias camadas de tinta. Quando olho com mais atenção sempre vejo pigmentos azuis, verdes, brancos e muitos outros em tons avermelhados, a parede da casa de meus pais se parece com a vida que sempre levei. Sinto também uma inconsolável vontade de me sentir amado, de ter os cabelos tocados por mãos suaves e o rosto acariciado por lábios. A vontade que tenho, pensei bem e percebi, é a mesma vontade daquele que salta de um penhasco rumo ao nada e do nada cria seu último instante de eternidade, este, sem saber se vive ou se morre, torna-se um voraz ser completo naquele minuto, é parte do ar, do mundo, se transforma a cada milímetro que cai em oxigênio. Talvez seja isso que tenha sentido ao acordar, oxigênio, uma calma que queima em labaredas em meu peito como quem incinera novamente as lenhas de uma antiga fogueira.

Hoje os pássaros me ensinaram novas melodias e pude notar nos olhos da criança que passou por mim enquanto caminhava a procurar um local mais fresco no qual pudesse repensar valores e tomar um pouco de ar. A criança passou, me olhou e continuou a correr, como se estivesse a me dizer que não se deve temer o desconhecido, não se deve temer a queda, pois ela caiu, uma lenta e dramática queda. Quedas como aquela não se devem ser ignoradas, mas a contrariar todas as leis da natureza de nossas preocupações sociais, a criança ignorou a queda e se reergueu, continuou a correr e caiu novamente. Acreditei naquele instante ter visto um ensinamento delicado de um ser singelo, a queda só é queda quando é vista como queda, pois daquele instante até o resto de minha vida, todas as minhas quedas serão vistas como uma nova oportunidade de me reerguer.

Sinto de subito uma antiga vontade de correr de amar e ser amado, se me tornar eterno, hoje sinto que a eternidade já chegou em meu olhar, dormiu comigo e me viu sair pela porta com um sorriso doce nos lábios. Hoje sou mais que um simples movimento, hoje sou queda.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Canto A2

Canto A2
W.Faria

Quando o dia tarda seu negrume,
Seu olhar de mágoa, como era de costume,
Faz de rio o pranto e de balsa faz meu canto,
Esta cicatriz na qual navego é meu ponto de equilíbrio,
Ponto cego.

Traz a paz que imploro e que trazia,
Sob o manto inteiro de tuas mãos,
Cinco sentimentos com os quais vivo momentos,
Sete mares e uma só desilusão.

Canto o meu canto e te peço,
Peço e impeço o peito de partir,
Fica mais um pouco eu confesso,
Que um canto a dois há de servir.

Canto o meu canto e te imploro,
Fica com teu peito perto assim,
Cola teu sorriso em minha boca,
E prometo à tudo dizer sim.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Eu Prometo

Eu Prometo
W.Faria

Prometo não julgar meus atos com a veracidade de meus sonhos,
Prometo não sonhar tao baixo a ponto de poder tocar os pés no chão,
Prometo nao sentir tristeza quando remoer de dor minhas lembranças,
Prometo não sofrer de amor.

Prometo ser feliz agora e se não for agora ser feliz já basta,
Prometo não aceitar a fumaça,
Prometo ter paciência e paz, mas se estas vierem alteradas prometo aceitar o tempo de cada uma delas,
Prometo não calar a dor,
Prometo não sofrer de amor.

Prometo ter os olhos sempre no hoje mas com o pensamento no amanhã,
Prometo falar tudo que penso mas se não conseguir e me escaparem as palavras, prometo esperar meu momento,
Prometo plantar flores e aprender com elas, prometo sempre buscar a cor,
Prometo não sofrer de amor.

Prometo, por fim, ser pura e calma constância de plácido lago e se, um dia, enervarem-se as águas, prometo esperar a onda se extinguir para que, pensativa na beira de mim mesma possa olhar para tudo que fiz e não me arrepender.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

As Flores de Monet

As Flores de Monet
W.Faria

Sonho um dia ter as belas nuvens frias
Que o sol tocou de leve,
Ter em mente o claro e douro
Alvorecer dos retirantes,
A certeza do bom tempo,
A razão dos imigrantes.

Sonho antes ser qual a flor
Que te mira reto a fronte
Ser certeza, bem querer,
Ser sutil e delicado,
Ser só arte, sem querer
Como flores de Monet,
Ser robusto, afiado,
Ser-não-ser e ser gigante.

Sonho a balsa,
Sonho intenso,
Sonho dança e movimento,
Sonho um dia acordar
Em colorido campo,
Sonho doce em ser risonho,
Sonho então poder notar 

Que é verdade e não só sonho.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Enquanto houverem estrelas.

Enquanto houverem estrelas
W.Faria

Hoje o céu acordou mais cedo,
Clamou o nome dos amantes,
Neblinas turvas e conselhos dos ventos
Assopram-me os ares "vem"
E eu vou.

Hoje a lua tem um tom avermelhado,
Repare o cobre acentuado,
E brilha como se não pudesse mais brilhar
As aves que se arriscam pela madrugada
Logo se amedrontam e voltam ao lar,
Essas aves me chamam "vem"
E eu vou.

Dentro de meus pastos interiores
Existem ninhos e flores,
Existem cascatas e dores
Geladas corredeiras de neve
Que é para onde viajo quando meu peito se atreve,
Atrevo-me a reconhecer meu interior cada dia mais,
Chamo-me "vem"
E eu vou.

Vou, pois sei que ainda existe um lugar
Sei que posso encontrar em mim um berço,
Um terço para rezar, um abrigo para voltar,
Vou, pois sei que os sonhos são gestos de ternura,
Devaneios de loucura e quando pinto meus céus,
Meus véus, minhas paisagens, nunca me esqueço
que um dia tudo isso será apenas uma imagem,
Mas vou, enquanto houverem estrelas a descobrir,
Quero vagar por um céu que ainda não conheci.




quinta-feira, 5 de junho de 2014

A complexidade das pessoas esta diretamente ligada ao sendo analítico que possuem, é através dele que estas mesmas pessoas transformam seu raciocínio calcado em lógica em novos sentimentos, entendendo sentimentos como a elipse que compreende dores e prazeres, sorrisos e raivas, todo esse pacote de emoções se chama sentimento e com ele não se pode brincar, afinal, aquilo que sentimos esta sempre certo, acredite no que sente. Os olhos humanos são incapazes de detectar inúmeras coisas, porém, a mente sempre reage conforme o estimulo, mesmo que seja invisível aos olhos portanto, acredite no que sente, bom ou mau é verdadeiro, acostume-se.


quarta-feira, 14 de maio de 2014

A boodega de Zé capenga

A boodega de Zé capenga
W.Faria

“Quarta feira enluarada,
Não é hora de resolver pendenga”
Era assim que a moçada
Tentava acabar com a briga,
Que com força se aprumava,
Se pegava em estrovenga,
Revolver e pontapé,
De garrafão ali cantava,
Tamborete e até viga.
O que acontece foi que Tião
Irmão de Zé capenga
Tomou um pifão arretado,
Babou no grandalhão
Que era irmão do delegado
E não é que o grandalhão
Pra piorar o recado
Revelou a novidade,
O coitado não era gago!?
Pois Tião, meio aluado,
Pediu desculpa e se foi,
O gago grandão desletrado
Foi logo sacando a arma
Que ele trazia com ele,
Presenteada pelo irmão
Lustrada com cera de abelha
Com coronha de cor limão,
Eta armazinha mais tronxa.
Tião já longe trupicava,
Dada empurrão em freira,
Xingava cachorro na feira,
Tombava pra todo lado,
Até que ouviu um sujeito
Que falava engraçado
E o sujeito dizia
Com um olhar meio assustado:
“ômi, oce CE CE CE...”
- Ceará!?!? Tião perguntou de pileque
“que que que ceará o que que “
Mas eita cabra da gota,
Ta me achando que sou três?
De certo fala comigo e repete mais duas vez,
Quem sabe ta mau das vista,
Ou até vendo fantasma,
Eu não vou nem retrucar,
Vai que o pobre sofre de asma.
E o grande babado nas venta
Retrucava com o revolver na mão tremelicando,
“eu vo vo vo te mata ta ta ta”
E Tião abilolado que só,
Retrucou com o gago matuto
“ Seu moço, veja só,
Não to entendendo é nada
Será que me chama de vô?
Por falta de sua família?
Venha cá, te dou um abraço,
não há um verso que diz
que todo mundo é uma ilha?”
Ouvindo as palavras doces
De Tião Ferreira da Cruz,
O matuto gaguejou,
Que chegava a lagramiar,
Virou as costas e se foi,
Deixando o assunto pra lá.
Tião, com cara de sabido,
E cachaça nas ventoinhas
Pensou com seus miolos,
- Que sina estranha essa minha,
Cuidando do porre dos outros
E da saudade da família
Sorte que sou mais esperto
Que nem um galo de rinha,
Escapo de qualquer desavença
Mesmo babando nos outros,
Trupicando em freira e frei,
E aliás pelo que sei,
Não gosto é de violência,
E quarta-feira enluarada,

Não é hora resolver pendenga.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Romance para Violino

Romance para Violino.
Khristopher W.F.

Ela mora perto de um jardim, tão perto que às vezes acho que ela mora dentro deste jardim. Sempre vou até sua casa, sempre a tardinha, quando o sabiá já parou de cantar mas as vezes noto um ou dois colibris pertinho da sua casa, sempre tem alguém sorrindo por ali. Passo por três ruas antes de chegar até lá, cumprimento um ou dois moradores e entro em uma outra rua que tem um beco, gosto de becos. A travessia que dá acesso à sua casa é perigosa e sempre atravesso bem atento, tem sempre máquinas na pista ou homens em obras, os cumprimento também.
Quando chego perto posso ouvir o latido de alguns cachorros que moram por ali, são de uma senhorinha bem senhorinha que espia pela janela sempre que estou por perto, me sinto um artista. O sol logo vai embora e a cena muda consideravelmente, se torna rapidamente avermelhada, assim como ficam minhas bochechas quando sei que ela esta descendo as escadas, ela sempre as desce uns vinte ou trinta minutos depois do horário combinado, acho um charme.
Ela chega com uma cara de que nada aconteceu e no fundo se crucifica pelo atraso, eu não ligo, juro que não ligo, considero uma verdade inegável o fato de que algumas pessoas podem se dar ao luxo de chegarem atrasadas, como a noiva no altar e...bom, na verdade acho que só a noiva pode chegar atrasada e ainda assim ser elegante, a noiva e ela, que chega sempre como um passarinho, suave, com aquele sorriso embebido em batom.
Romance para Violino nº 2 fica sendo repetindo em looping em minha mente enquanto tento entender como é que um ser pode ser tão lindo e ainda assim estar vivo, lembro-me de ter visto musas em quadros tão antigos que quando eu nasci os pintores já não estavam mais vivos. O fato é que escuto a musica e ainda assim posso ouvir tudo que ela diz, na verdade ouço aquilo que ela diz, o que as velhinhas sussurram nas janelas, ouço os cachorros a latir, o gato a miar e até as asas da coruja buraqueira que um dia assistimos voar e pousar em galhos secos de uma árvore que nasceu em um barranco amarelado pertinho de um rio. Sempre caminhamos juntos pela madrugada e caminhar pela madrugada nunca me pareceu tão elegante, de um perigo tão adocicado que não dá medo de correr.
Ela tem cabelos de noite e um olhar da cor do sol, consegue guardar dois ambientes completamente diferentes dentro de si. Quando ela sorri, eu também sorrio, primeiro porque adoro o som de sua gargalhada e depois não sei explicar porque, talvez eu queira sorrir por não acreditar no que acontece.

Ela mora perto de um jardim, tão perto que ainda não sei se ela mora dentro ou fora dele e na verdade não faz diferença porque enquanto eu viver vou querer criar jardins em todos os lugares pelos quais passarmos. As flores terão inveja, assim como muitas pessoas, mas é fácil compreender o motivo, ela é um novo continente, tanto que às vezes me sinto Colombo, até nas roupas me pareço com ele, menos na soberba e pedantismo, tenho pra mim que Colombo era um pau mandado e eu não sou, só vou onde quero ir e na verdade só vou ao encontro daquilo que me desperta interesse ou vontade, como o canto dos passarinhos, as flores novas na primeira semana da primavera, isso tudo me desperta interesse e ela, ela me desperta mais que isso, ela me desperta poesia.

domingo, 20 de abril de 2014

Despedida


Despedida.
W.Faria

Que todas as manhãs da sua vida se tornem as últimas horas de sua existência,
para que possa fazer tudo que faria normalmente com a força de quem luta para deixar sua marca.
Que todas as suas horas de lazer sejam compartilhadas com alguém, para que possa emprestar seus sorrisos para aqueles que não mais sabem o que é felicidade.
Que todas as estradas pelas quais percorrer sejam feitas de tropeços e que estes tropeços lhe ensinem a olhar para os dois lados quando caminhar.
Que todos os seus sonhos terminem antes do despertador tocar, para que a modernidade não fique entre você e seus pensamentos.
Que seus banhos sejam mais de luz do que de água.
Que você cure seus medos com abraços apertados, para que perceba que não existe temor maior do que permanecer sem abraços.
Que as musicas te elevem a alma e que você saiba para que serve a alma.
Que seus sorrisos sejam novos a cada manhã, para que seja você a iluminar o sol e não o contrário.
Que voce plante flores.
Que ouça os pássaros, que ame os pássaros.
Que veja cascatas e cachoeiras, para que entenda que as águas sempre se renovam, mesmo que não encontrem o mar.
Que voce veja o mar e saiba como é estar na beira do mundo.
Que você cuide do mundo, para que os próximos a morar nele sejam tão felizes quanto você foi.
Que você leia poesia, que escreva poesias, para que entenda que não são as palavras que tornam a vida bela e sim as atitudes.
Que você tenha atitudes, para que entenda que quando se quer mudar alguma coisa é preciso se mover.
Que você dance como quiser dançar.
Que respeite os outros para que entenda que a única lição de toda e qualquer religião é não fazer com os outros aquilo que não quer que façam com você.
Que você veja as estrelas, que você ame as estrelas, para que saiba o quão pequenos somos e mesmo pequenos guardamos um universo dentro de nós.
Que ame sua família e que entenda que a família é a balsa para onde voltamos quando o mar bravio nos tenta engolir.
Que você experimente de tudo para que saiba o que gostar e o que não gostar,
Que goste de mim, assim como eu gosto de você,
Que eu possa representar para você aquilo que você já representa para mim,
Que você possa enxergar em mim um exemplo de tudo aquilo que não se deve ser ou fazer
porque eu fiz errado, eu caminhei errado, eu escolhi errado, eu troquei as pessoas certas por pessoas que não estavam no caminho certo.
Eu abandonei projetos, planos e lugares, mas que saiba que mesmo tendo errado tanto eu nunca abandonei meus sonhos, nunca.
Que você tenha sonhos, por mais estranhos que possam parecer para algumas pessoas,
acredite neles, pois eu acredito neles, assim como acredito em você, mesmo sem te conhecer,
Conheça muitas pessoas e saiba que todos foram criados para serem bons,
E não é porque algumas pessoas tomam caminhos diferentes dos seus que devem ser considerados ruins, seja bom.
Que ame os animais, para que entenda que existem muitas formas de vida diferentes ao seu redor, que olhe ao redor.
Que corra, corra muito, corra em meio a flores, a rosas, margaridas e jasmins,
Para que saiba a textura das cores.
Que ame ao máximo aqueles que estão perto de você e ame mais ainda quem está longe.
Que goste da chuva, do sol e da manhã e que todas as manhãs da sua vida se tornem as últimas horas de sua existência, para que possa fazer tudo que faria normalmente com a força de quem luta para deixar sua marca.

W.Faria






segunda-feira, 31 de março de 2014

Uma valsa a para ela

Uma valsa a para ela.
W.Faria 

A vida repõe os trechos que as dores apagaram,
Refaz as pontes entre penhascos que desabaram,
Dos gritos de dor intensa até as lascívias horrendas,
Dos calos brotaram as flores e cores de mil amores,
Em uma valsa paralela, tilintam os tons de aquarela,
Teu riso seguro no ar, teus ares aos quais respirar,
E a vida rangendo seu dorso no leito que ninguém mais vê,
Entre os dias e noites, lembranças,
E eu gargalhando você.

Aos meninos sinaleiros. (Aos meninos do semáforo)

Aos meninos sinaleiros. (Aos meninos do semáforo)
W.Faria

Chiclete, drops de hortelã,
Gripe, dores e febre afã.
Abaixa o vidro e mira a fronte,
Vomitam notas e moedas,
Como se atirassem sonhos à fonte.

Malabaristas e pirófagos
Órfãos da cidade,
Devorados por políticos antropófagos,
Um real para quem não é visto com real,
"Três vezes negarás o meu nome"
Disse o homem, disse o homem.

Tira este moleque do sinal
E faz de um politico corrupto seu mais indecente marginal.
Rasga este livro de lei e abra um de alfabetização.
Queime este terno e gravata
E coloque teu pé no chão,
Cospe sua palavra bela e embeleza-te a alma,
Não concorde com os sorrisos
De quem não conhece a palavra 'calma'.

domingo, 30 de março de 2014

C'est la vie

C'est la vie
Khristopher

Não tenho o habito de sonhar, se é que isso pode ser considerado um hábito e mesmo que não possa acredito que exista a capacidade de estimular os sonhos e o processo de comunicação neuronal que os produzem. O fato é que existem lacunas não preenchidas em minha mente que, sinceramente, são absolutamente dispensáveis para minha sobrevivência. Não tenho o costume de pensar que o outro é dotado da mesma racionalidade que eu, da mesma intelectualidade, que aliás não é muita, só serve mesmo para me diferir dos primeiros primatas, não acredito que o outro seja dotado da mesma capacidade de deduções lógicas e ao mesmo tempo a doçura ao perceber que cada um é um universo. Pode até ser que essa minha capacidade de permanecer inerte aos olhos dos outros e vivo e flamejante dentro do meu mundo particular venha de algum tipo de acidente vascular ou algum corte cometido por um acidente sentimental que me levaram algumas capacidades, algumas faculdades mentais. Alguns cortes arrancam partes importantes de nós, alguns deles nos cortam tão profundamente que fica difícil saber aquilo que é real e aquilo que é sonho, por isso acho que não é mais necessário entender o limite entre ambos, de modo que viver se torne uma experiência única e sem um único momento de dúvida, afinal quando não se quer saber onde pisa não importa se dirão que está no caminho certo ou não, desde que esteja onde quer estar e com quem se quer estar.

Não tenho a capacidade que muitos tem de entender coisas simples como uma piada irônica, acredito que isso se dê pelo fato de que não creio que alguém irá responder um questionamento sério com uma anedota, acredito também que conseguir encaixar uma piada em um bom momento e fazer dela a ponte entre assuntos aos quais se quer chegar é um dado de genialidade e confesso que não conheço muitos gênios, um ou outro intelectualóide ou cinefilos que repetem cenas corriqueiras de filmes com um roteiro de péssima qualidade.

Não tenho a pretensão de me encaixar em um segmento ou defender uma causa, aliás defendo a minha causa e sempre defenderei, se esta causa apóia a sua, ótimo, se não apóia não é por isso que deva me considerar uma pessoa pior que você, isso se chama etnocentrismo e esta atitude tem seus danos e ganhos.

Como disse, alguns cortes arrancam partes importantes de nós e em raros momentos, ocasiões quase impossíveis de acontecer, acontece uma fagulha que desperta todo o senso de atenção peculiar ao cérebro humano ou animal, neste momento você terá duas escolhas, ou entende quais as mensagens desta fagulha ou faz de tudo para deixá-la se esvair lentamente.

No meu caso a compreensão é natural e com uma ou duas linhas dedutivas posso perceber uma real modificação em crenças e uma considerável gana por recriar palácios de memória nos quais eu volto a depositar sentidos já perdidos pelo percurso. Esse fato fascinante não faz com que eu queira dizer que volto a ter uma considerável vontade de pertencer ao meio social, ou de ter a fé de que o outro é tão capaz quanto diz ser, bom quanto diz ser, dotado de inteligência quanto diz ser, esse fascinante fato revela apenas que dentre os milhões e milhões de seres que habitam o meio ambiente do qual todos nós fazemos parte existe um, apenas um, que chamou minha atenção e faz com que releve o contexto irrelevante que passou a se tornar a racionalidade.

"Habria sido maravilloso conocernos antes, habernos casado, tenido hijos.."
C'est la vie



quinta-feira, 27 de março de 2014

Natural Mente

Natural Mente
W.Faria

Sou meu próprio profeta,
minha flecha de alerta,
não tenho cavalo branco,
não caminho em linha reta,.
Tenho minha própria tábua da lei,
Não queimo bruxas ou nomeio algum rei,
Sou eu meu próprio adversário,
Meu Dia de Reis, Páscoa, Aniversário,
Sou eu quem me enforco aos poucos,
Sou minhas prisões, rugidos roucos,
cemitérios e berçários.
não lhe peço oratório,
nem canto e nem  velório
sou eu quem escolhe o pranto
Minha mente, meu purgatório.


terça-feira, 25 de março de 2014

A quantidade é relativa.

A quantidade é relativa.
W.Faria (Khristopher)

Quanto mais melhor, correto?
Errado, esse ditado de que a quantidade define o benefício é um dos grandes mitos da modernidade, se é que podemos chamar de modernidade um país com o terceiro maior índice de mortalidade infantil na América do Sul, 8° país com maior número de analfabetos adultos, segundo a Unesco e o segundo maior índice de analfabetismo da América Latina. Imaginar como os iluministas devem estar felizes neste instante com dados tão alarmantes é fascinante. Essa é nossa modernidade e com ela a quantidade não é qualidade e sim um acúmulo de numerais que parecem apontar na direção contrária de toda e qualquer benéfice nacional.

Quanto mais analfabetismo melhor? quanto mais mortes infantis melhor? se você julga que a resposta para essas questões está calcado na afirmação é hora de orar por sua comunicação neuronal e não precisa ser para deus, que vem sido visto como um egocêntrico, sádico e com problemas de baixa auto-estima, pedindo a todo momento que o adorem, segundo alguns religiosos, "Deus só quer que você o ame", é como se ele dissesse o tempo todo: "Vamos, me amem, me amem, me amem" ora já basta, quem ama não o faz por insistência, afinal quem nunca disse para seu parceiro ou parceira - Preciso de espaço! se você me pedir para te amar ai é que eu vou travar, tem q ser espontâneo. Então, com a fé tem que ser a mesma coisa, mas retomo agora o processo inicial deste texto.

Você seria capaz de dizer qual foi a vez que a quantidade determinou a qualidade de algo? antes que você diga perceba que quase todos pensarão no dinheiro, como quem diz "quanto mais dinheiro eu tiver mais feliz serei" logo meu companheiro, se você possuir este mesmo pensamento é hora de trocar o processo de comunicação neuronal por semi-vegetação seguida de eutanásia de sonhos e planos.

Perceba que quanto mais passos você dá mais próximo fica do final do caminho e, com isso, com muito mais dores nas pernas, logo o processo de busca pela sua felicidade envolve dores, perdas e lágrimas. A partir deste principio de imagem pode-se dizer que a quantidade é relativa, correto? errado novamente, a quantidade é relativa em qualquer circunstância e não uma hora ou outra, a velha história do copo que está vazio mas cheio de ar, o copo que está cheio mas vazio de espaço.
Saiba que somos nós é quem deixamos algo ser bom ou ruim, somos nós os responsáveis pelas nossas lágrimas e sorrisos, somos nós os mais propícios a loucura todos os dias, somos nós quem agimos como estúpidos ao vermos alguém ser estúpidos e não agirmos.

Lembre-se sempre que de longe todo formigueiro parece um monte de terra, nada é unilateral e neste caso multilateral, não existe verdade, existem verdades, partes de uma mesma verdade que é contada por cada um de uma forma peculiar.

E pergunte ao seu eu interior, se até a quantidade, oriunda de uma lógica irrefutável de que toda quantidade é lógica e inegavelmente sinal de qualidade será que tudo é relativo ou não? a resposta é simples, "é relativo" afinal nem a verdade é absoluta, nada é absoluta, nem a Vodka Absolut é absolutamente álcool.

A única verdade que não se pode negar é que o Brasil, com o seu Governo Federal e seu genial, pero no mucho, slogan "Brasil, Pais Rico é País Sem Pobreza" está deveras negando os dados preocupantes nos quais estão inseridos nosso povão sorridente, mas se pensarmos bem até mesmo o poder do Governo Federal é relativo, ou deveria ser, deveria ser Poder Relativamente Federal, visto que os três poderes não são tão eficazes quanto dizem ser, basta estar atento aos índices e dados processuais e suas relevâncias como mostram as manchetes "Garoto rouba bala e é morto por policiais" e em contraponto "Politico ladrão é reeleito em cidade grande". Em alguns casos os três poderes da união deveriam se unir em um só, o poder da Inércia, esse sim funcionaria perfeitamente, aliás, vai saber se até nesse não haveria corrupção.

Esse é o nosso país, onde os traseiros não ficam para trás e é o futuro, que naturalmente ficaria para frente, acaba ficando para o passado. Esse é o país do futebol, que não é o país do futebol, levando em consideração que o esporte surgiu na Inglaterra, segundo antigas pesquisas e a reportagem da revista Superinteressante de novembro de 2009.

Enfim, muita paz à todos, ou não, afinal até a paz é relativa mas nunca irrelevante.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Reza na Rua Vermelha

Reza na Rua Vermelha
Wesley Faria 

Era tarde, eu me lembro, vela acesa. 
Pouca gente esperava na sala. 
Pouca comida parava na mesa. 
Um barulho de trovão, uns meninos apertavam as mãos,
Cada estalo era o início de outra oração, porque não se pode terminar oração com barulho de trovão. 
Eu, pequeno, sentado e olhando, registrava cada cena, nem sentia o cheiro da poeira da rua vermelha
A chuva caía de leve, as calças todas manchadas na beira, um vermelho-barro-sujo, uns dez chinelos na esteira...e o cachorro latiu com medo, Dona Nair disse depressa:

"Oh! Menino! Vá ver! Que a reza não pode parar!"

E lá fui eu na chuva e no barro, saltando as poças e tremendo com o barulho dos estalos,


"Corre menino, abra aqui! Não vê que tá chovendo?!"


Eu parei, na verdade não fui eu quem parou, foi o mundo que parou de girar, só pra ela não se molhar. A água parou de chiar, a tarde parou de cair, o cachorro parou de latir e o sol paralisou, lá no ar.
O tempo preso na cuia, a reza parada no meio e ela num vestido vermelho, me olhando na porta da frente.
Eu, besta e sorridente, com o estômago revirado de tanta borboleta que voava lá dentro, abri o portão e ela passou.
A barra da saia dela lambia o barro do chão, e lá fiquei...

Tentando entender a primeira vez que uma santa chegou atrasada na oração.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Entre padres e ladrões
W.Faria

Olha tua mão, vê as linhas que a cruzam?
De fato não entende que são as mesmas que lhe guiam,
Olha teus pés, vê o formato de teus dedos?
Não se assemelham aos de tua mão
E ainda assim convivem em uma união íntima e incorruptível.

Teus olhos, distintos, ora cegos ora clarividentes,
Conduzem teu pensamento para dentro daquilo que lhe convém,
Não toca mais tua canção, não toca mais os corações,
Não fala mais do teu amor, cálido e brando como o céu entrebranco.

Pensa em ir para o alto sem perceber a putridez do chão de onde vem,
Sugere lindas melodias sem ter força para romper teu silêncio,
Ainda recosta em teu leito como fazia todas as manhãs?
Ainda ora para um deus terrível com aqueles que o abominam
E afável com os que o amam?
Ainda crê em um gramado frutífero em comum união?

Rasga tua veste e veste oque te sobras,
Assim conseguirá o vigor em tua obra.

Por fim, olha tua mão, vê que tudo que quiser é teu,
Do teu corpo fazes aquilo que bem pensar,
E no final, lembra-te que só é teu aquilo que puder carregar.