quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Nove Candeias

Nove Candeias
W.Faria

Eram novas as candeias durante esta manhã,
O vento as penteavam como quem penteia um filho,
Órfãos de maré, perpetuavam seus bailados suaves,
Nove candeias inertes, cujas chamas rompiam o silêncio
Em uma melodia quase inaudível de borbulhar de fogo.

A nona candeia se recostou em nobre leito e derramou-se em solidão,
A oitava lutava pela nobre arte de conseguir iluminar os pedidos de perdão,
Era a sétima, a candeia da imensidão, que trazia paz, carinhosa salvação,
Sexta era a candeia cujo pálido corpo pendia lá e cá, em comunhão,
A quinta candeia plácida, devorava-se ante a multidão,
Quarta candeia bela, bela de um douro suave, impelida de cantar,
Seus versos doces e vinagres,
Terceira e não mais distante, cadeia de retirante, uma lágrima de cera no chão, uma outra pintava a mão,
Segunda, a mais brilhante, a bela, candeia voraz, queimou todo seu brilho denso nas belezas temporais.

A primeira, a pequenina, a candeia de mais timidez,
A primeira, sem tanto brilho, sem branca aura, sem nitidez,
A primeira, que consumiu a luz do amor, dividiu-se em oito candeias,
Como fez o redentor,
A primeira, nobrezinha, cheia de sonho e de cor,
Se emudecia em seu canto, para dar voz ao seu louvor,
A primeira, candeia rubra, de sangue e de paixão,
Foi a única que persistiu até o final da procissão,
Tocou o chão, tocou o céu,
Queimou dedos, pés, papel,
Candeia mais jovenzinha,
Candeia de gente ao léu.