domingo, 20 de outubro de 2013

Trovador

TrovadorW.Faria 

Sou uma alma inquieta,
Sombra de tudo que faz verso e som,
Sou aquilo que outrora chamaram de defeito,
Sou o efeito de tudo que caminha e sorri,
Sou aprendiz de passarinho, de cachoeira, de espinho,
Sou trovador que desce a ladeira,
Com um verso na mão e nada na carteira.
Sou o poema em carne viva,
Me escrevo para que um dia seja lido
Como quem gostava da vida.

Pre-composto

Pre-composto
W.Faria

Dilui-se em água e mistura-se ao pó, uma dose de pena e cinco de ingratidão, pedaços de narciso com salpicos de tristeza, ao dormir, leveza, ao caminhar, plumas e ao lembrar, nada. Irrefutável receita para a peste que vive a espreita.

Tudo é ar

Tudo é ar
W.Faria

Densos ares saltitavam o suprir de tua inércia,
Não te esqueças que a vida não lhe nutre em altas doses,
É preciso ruminar tudo aquilo que te enlauda
E entender que nem o sol poderá torrear-te a cutis.
Negros odes que os ares aclaram em pequenas manhãs silvestres,
Toca-te a alma e olha-te no olho, responde-te,
Quão real é tudo aquilo em que acreditas?
Ruma-te e não te estremeces,
Crê somente naquilo que te pode ferir,
Todas as demais coisas são feitas de ar.

O Grito

Este é o primeiro de uma série de poemas que estou iniciando em protesto às milhares de pessoas vítimas de estupro e gostaria do apoio de todos para que estes versos ganhassem a devida proporção para estas obras dedicadas.


Grito
W.Faria

Para quem se deve orar quando o corpo só perece?
Deveras não lhe parecem cabíveis as preces.
Para qual deus envio meus mares?
Com qual vela percorro minhas marés?
Encarcerado em uma ilhas de lástimas,
Declarado fidalgo em uma podridão de fé.

Uma visita ao coração da lembrança,
Veem-se espectros de um demônio,
Cuida-se do novo e esquece-te do monstro?
Cuida-se do monstro e observa-se o encontro,
Entre alma e calma, entre o nada e a vontade.

Olhos lancinantes, expectoração clara,
Vias aéreas limpas, um sussurro tímido,
Navegantes memórias em pequenas partículas de luz,
Os dedos que lhe tocaram a pele limpa,
Os lábios que lhe perfuraram a alma.

Ressaltam as visões de cães,
Os ladrantes da noite,
Ratos pelos becos,
Cartas, jogatinas,
Passos lentos e um grito,
Grito, grito.

Escarram-se pesares,
Exprimem-se vísceras e cóleras,
Pungentes embaraços,
Em colo de rainha,
Novos príncipes entregues
Por sórdidas mãos,
Acordai-vos,
Acolhei-vos,
Teremos lágrimas ao café da manhã,
Enquanto os reis de nossa era,
Comem seus manjares afãs.