quarta-feira, 14 de maio de 2014

A boodega de Zé capenga

A boodega de Zé capenga
W.Faria

“Quarta feira enluarada,
Não é hora de resolver pendenga”
Era assim que a moçada
Tentava acabar com a briga,
Que com força se aprumava,
Se pegava em estrovenga,
Revolver e pontapé,
De garrafão ali cantava,
Tamborete e até viga.
O que acontece foi que Tião
Irmão de Zé capenga
Tomou um pifão arretado,
Babou no grandalhão
Que era irmão do delegado
E não é que o grandalhão
Pra piorar o recado
Revelou a novidade,
O coitado não era gago!?
Pois Tião, meio aluado,
Pediu desculpa e se foi,
O gago grandão desletrado
Foi logo sacando a arma
Que ele trazia com ele,
Presenteada pelo irmão
Lustrada com cera de abelha
Com coronha de cor limão,
Eta armazinha mais tronxa.
Tião já longe trupicava,
Dada empurrão em freira,
Xingava cachorro na feira,
Tombava pra todo lado,
Até que ouviu um sujeito
Que falava engraçado
E o sujeito dizia
Com um olhar meio assustado:
“ômi, oce CE CE CE...”
- Ceará!?!? Tião perguntou de pileque
“que que que ceará o que que “
Mas eita cabra da gota,
Ta me achando que sou três?
De certo fala comigo e repete mais duas vez,
Quem sabe ta mau das vista,
Ou até vendo fantasma,
Eu não vou nem retrucar,
Vai que o pobre sofre de asma.
E o grande babado nas venta
Retrucava com o revolver na mão tremelicando,
“eu vo vo vo te mata ta ta ta”
E Tião abilolado que só,
Retrucou com o gago matuto
“ Seu moço, veja só,
Não to entendendo é nada
Será que me chama de vô?
Por falta de sua família?
Venha cá, te dou um abraço,
não há um verso que diz
que todo mundo é uma ilha?”
Ouvindo as palavras doces
De Tião Ferreira da Cruz,
O matuto gaguejou,
Que chegava a lagramiar,
Virou as costas e se foi,
Deixando o assunto pra lá.
Tião, com cara de sabido,
E cachaça nas ventoinhas
Pensou com seus miolos,
- Que sina estranha essa minha,
Cuidando do porre dos outros
E da saudade da família
Sorte que sou mais esperto
Que nem um galo de rinha,
Escapo de qualquer desavença
Mesmo babando nos outros,
Trupicando em freira e frei,
E aliás pelo que sei,
Não gosto é de violência,
E quarta-feira enluarada,

Não é hora resolver pendenga.

Nenhum comentário:

Postar um comentário