domingo, 30 de março de 2014

C'est la vie

C'est la vie
Khristopher

Não tenho o habito de sonhar, se é que isso pode ser considerado um hábito e mesmo que não possa acredito que exista a capacidade de estimular os sonhos e o processo de comunicação neuronal que os produzem. O fato é que existem lacunas não preenchidas em minha mente que, sinceramente, são absolutamente dispensáveis para minha sobrevivência. Não tenho o costume de pensar que o outro é dotado da mesma racionalidade que eu, da mesma intelectualidade, que aliás não é muita, só serve mesmo para me diferir dos primeiros primatas, não acredito que o outro seja dotado da mesma capacidade de deduções lógicas e ao mesmo tempo a doçura ao perceber que cada um é um universo. Pode até ser que essa minha capacidade de permanecer inerte aos olhos dos outros e vivo e flamejante dentro do meu mundo particular venha de algum tipo de acidente vascular ou algum corte cometido por um acidente sentimental que me levaram algumas capacidades, algumas faculdades mentais. Alguns cortes arrancam partes importantes de nós, alguns deles nos cortam tão profundamente que fica difícil saber aquilo que é real e aquilo que é sonho, por isso acho que não é mais necessário entender o limite entre ambos, de modo que viver se torne uma experiência única e sem um único momento de dúvida, afinal quando não se quer saber onde pisa não importa se dirão que está no caminho certo ou não, desde que esteja onde quer estar e com quem se quer estar.

Não tenho a capacidade que muitos tem de entender coisas simples como uma piada irônica, acredito que isso se dê pelo fato de que não creio que alguém irá responder um questionamento sério com uma anedota, acredito também que conseguir encaixar uma piada em um bom momento e fazer dela a ponte entre assuntos aos quais se quer chegar é um dado de genialidade e confesso que não conheço muitos gênios, um ou outro intelectualóide ou cinefilos que repetem cenas corriqueiras de filmes com um roteiro de péssima qualidade.

Não tenho a pretensão de me encaixar em um segmento ou defender uma causa, aliás defendo a minha causa e sempre defenderei, se esta causa apóia a sua, ótimo, se não apóia não é por isso que deva me considerar uma pessoa pior que você, isso se chama etnocentrismo e esta atitude tem seus danos e ganhos.

Como disse, alguns cortes arrancam partes importantes de nós e em raros momentos, ocasiões quase impossíveis de acontecer, acontece uma fagulha que desperta todo o senso de atenção peculiar ao cérebro humano ou animal, neste momento você terá duas escolhas, ou entende quais as mensagens desta fagulha ou faz de tudo para deixá-la se esvair lentamente.

No meu caso a compreensão é natural e com uma ou duas linhas dedutivas posso perceber uma real modificação em crenças e uma considerável gana por recriar palácios de memória nos quais eu volto a depositar sentidos já perdidos pelo percurso. Esse fato fascinante não faz com que eu queira dizer que volto a ter uma considerável vontade de pertencer ao meio social, ou de ter a fé de que o outro é tão capaz quanto diz ser, bom quanto diz ser, dotado de inteligência quanto diz ser, esse fascinante fato revela apenas que dentre os milhões e milhões de seres que habitam o meio ambiente do qual todos nós fazemos parte existe um, apenas um, que chamou minha atenção e faz com que releve o contexto irrelevante que passou a se tornar a racionalidade.

"Habria sido maravilloso conocernos antes, habernos casado, tenido hijos.."
C'est la vie



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