segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Vinte anos de solidão


Vinte anos de solidão
W.Faria

No sertão cabra macho também pia
quando a seca devora a plantação
quando q chuva não faz a companhia
é jiboia caçando de facão
feito ave maria mal rezada
todo o dia se arrasta pelo chão
a poeira se esconde entre os dentes
é a peleja do cego em contramão

Até o padre suspende a igreja
essa noite jesus não vem rezar
foi-se embora de sede e de fome
trabalhando em um canavial
e os olhos de tantos desprovidos
fome é grande mas é menor que o sonho
que se esconde atras de cada verso
do menino e do velho risonho.

No sertão cabra macho também pia
quando vê a mãe preta falecer
é o momento que tanta valentia
perde feio pra o entristecer.

Tange o carro de boi na rodovia
na poeira do sonho que ficou
deixa a casa de palha abandonada
segue em rumo da estrada que encontrou
o retrato da mãe recém matada
pela peste que come o sertão
leva junto do peito bem guardado
no tão amarelado coração
vai tentar outra vida de formiga
depois é mais vinte anos de solidão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário