quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

A Menina e a Flor

Local: interior de alguma cidadezinha,
Horário: Manhã
Tempo: Nublado
  • bom dia rosa, bom dia margarida, bom dia azaleia. Ela Dizia todos os dias para as flores.
  •  Quem é que dá bom dia para as flores? perguntavam para ela, sempre espantados.
  • Ora, as flores nao me respondem somente porque não sabem falar, mas eu não ligo, sempre falo com elas.
  • Mas você está louca das ideias? onde já se viu! uma menina de tão boa saúde física falando assim com as plantas!

Mesmo assim ela caminhava todas manhãs pela parte mais florida do jardim, sorrindo, conversando e admirando as flores. Havia uma pequena gruta no final do caminhozinho pelo qual ela passara uma única vez. Lá de dentro ela ouviu uma voz fininha e bem baixinha que dizia:
  • Olá? tem alguém ai?
Ela se lembrou que já havia escutado o mesmo som ha algum tempo, mas nunca deu muita importância, porém, dessa vez ela quis averiguar. Chegou até a beira da gruta e disse:
  • Olá? tem sim, tem eu! quem é que está ai?
  • sou eu! ora! até que enfim voce me ouviu! eu te chamo todos os dias e você não percebe! mas que desatenta é você!
  • Poxa, me desculpe senhorita, mas eu não consigo vê-la, poderia vir até a luz para que eu a pudesse ver?
  • minha querida! isso é impossível, estou plantada em uma rocha e n consigo me mover! eu te chamo para que possa me ajudar, vivo aqui desde pequenininha e n consigo ver a luz do sol, gostaria muito de conhecer o mundo lá fora!
Ela caminhou devagarzinho até o ponto mais escuro da gruta e com bastante cuidado tateou o chão, sentiu uma pequena pedra, e mais outra, e mais outra e mais outra até perceber uma rocha bem grande, no topo dessa rocha ela notou um pequeno broto e ao lado do broto um caule macio de uma flor, folhinhas e pétalas, sussurrou bem baixinho:
  • É a senhorita quem falava comigo?
  • Sim querida, sou eu! será que você poderia, por gentileza me levar lá para fora? não sei qual é o gosto do vento, a cor das flores e sequer o calor do sol, me sentiria muito mais feliz ao ver o mundo de verdade.
Com muito mais cuidado do que antes, a menina pegou a rocha e com toda sua pouca força foi levando para fora da gruta, andava um metro e parava, mais um metro e parava, outro metro e parava, por fim, exausta, conseguiu levar a rocha para o lado de fora. 
  • COMO É LINDO AQUI! N SEI COMO PUDE PERMANECER TANTO TEMPO NAQUELA GRUTA FRIA!
  • Ora! a senhorita não tinha muita opção não é mesmo? como foi parar lá dentro?
  • Minha querida, quando eu era ainda uma sementinha, fui lançada ao solo por uma mãozinha macia e pequenina, com dedinhos gordinhos, mas antes mesmo de me enterrar no solo senti um vento do leste me levando e fui rolando e rolando e rolando, até cair naquela gruta. Depois disso uma chuva muito forte alagou todo o interior da gruta e me fez boiar até o topo daquela rocha, por sorte lá nas pedras havia um bocadinho de terra e foi lá que nasci
  • Minha nossa senhorita! mas que lástima! fico feliz em poder tê-la conhecido, agora posso leva-la para onde quiser! quem é que foi esse desnaturado que não percebeu que uma de suas sementinhas não havia sido plantada como as outras?! 
  • Quem foi eu não sei, mas tinha mãos macias macias como as suas, um olhar bondoso como o seu e um cheirinho que parecia o que sinto agora, era tão parecido que acho que poderia ter sido até voce!
  • Não!! eu nao teria esquecido de você!
  • mas se tivesse se esquecido como é que saberia que esqueceu?
  • É verdade, a senhorita tem razão!
  • Mas deixe disso menina! vamos ser uma família! já que pode ter sido a sua mão a me plantar, posso te chamar de mamãe? afinal todas as outras plantas tiveram mãe. Veja o salgueiro, ele teve seus filhinhos, veja as azaleias, tiveram suas mamães, até mesmo as hortaliças. Mas eu fui fruto de um acaso, não posso ter sido criada por aquelas rochas, mesmo em meio a dureza daquelas pedras eu nasci flor
  • E uma beleza de flor a senhorita me parece!
Juntinhas, a menina e a flor sorriam com os olhos calmos de quem espia a chuva chegando no horizonte.
  • menina, você pode me colocar novamente onde me achou, sei que lá é meu lugar.
  • De maneira alguma a senhorita volta pra lá, agora que a conheci seremos uma família e nunca mais vou desamparar você, vem! vem comigo!
nos ultimos minutos antes da chuva a menina pegou a rocha e novamente com toda sua pouca força e sua coragem ela voltou pausadamente pelo caminhozinho e chegou em casa. Ao pisar na soleira da porta da sala ela gritou:
  • Mamãe! mamãe! prepare mais um lugar na mesa, a senhora virou avó!
Sua mãe olhou com olhos sorridentes e entendeu logo do que se tratava, já que a menina, suja de lama, carregava a flor em seu colo como quem carrega um bebê.
  • Claro meu amor, mas antes vá se lavar e traga sua filhinha para comer conosco.

Naquele dia, naquele exato dia, aquela menina entendeu que família não é quem tem nosso sangue mas sim quem tem nosso sorriso.

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Antes de deitar.
Wesley Faria.

Essa boca que tem cor de fruta
Essa mão de fazer cafuné
Esse jeito sem ter força bruta
É do jeito que o coração quer

Esse passo juntinho desliza
Essa cor que o sol coloriu
E o gosto da tua mordida
Corredeira que em rio se abriu

Sem ter pressa o vento passeia
Sempre canta as mais belas canções
Feito pétala presa na teia
Delicado e preso em canções

Esse olho é fogueira luzente
Sem ter nada a mais para queimar
Se alimenta do peito da gente
E o entrego antes de deitar.

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Diabo


Diabo
wf

Eu sou um diabo meu
Me confronto e me venço
Me apunhalo pelas costas
Em face a qualquer alento

Sou minha faca, sou meu guia
Sou eu quem estraçalha minha alegria
Sou um ser que se consome
Em pranto, canto, pensamentos de orgia

Pasto, passo e dilacero o antepasto de lembrança
que rumino enquanto caminho rumo ao penhasco de dentro de mim
Mergulho neutro e cálido com meus cabelos alvoroçados
E a pele rubra de quem se assusta com o movimento

Eu sou um diabo meu
Me confronto e me conforto
Me incendeio em uma fogueira santa
Queimo todas as esperanças
Enquanto me canso em minhas andanças

Tudo isso em um piscar de olhos,
Sem sequer por os pés na rua
Faço isso dentro de mim
Enquanto olho a boca tua.


sábado, 21 de novembro de 2015

Lugar de esperto

Lugar de esperto
W.faria

É da sabença de todo cabra que quando a moça, seja ela moçoila ou
donzela ainda encabaçada, quando a dona se sente enrreivecida de nada
serve clamar a padre ciço pelo umbigo salvo, é de ordem clara não
passar nas redondezas quanto mais nas quadradezas. Quando a moça
entope as veias e o ventre com o fogo da moléstia é de sabença também
que o cabra reze a vela de maior comprimento, largura e tonalidade, a
modos de que sobreviva a saliência da personalidade da dona.

reza-se um padre nosso uma ave maria e uma salve rainha, se apela pra
santo, deputado ou majestade, quem puder ajudar no momento de
precisão.

se é caso de fúria da peste, o cabra dorme com um ôio aberto e o outro
aperreado, esticado por cima do ombro e encontrando a mão direita, se
é caso de destra, da dona, a modo de certificar que nenhum objeto
ponteagudo de suma cortância está sendo empunhado, relevado ou
descansando perto da mão alheia.


mas se o cabra é macho mesmo, enfrenta o ferro no peito, entorta a
lâmina no dente e arranca fio por fio do cabelo da rapariga, a modo de
dizer quem é que manda, torce o bico do peito com um alicate quente e
fala bem auto um nome falso, que é pra modequem tá perto não cobrar
depois.


resumindo, amar é da humaneza de cada um mas o pé atras faz do mundo
um lugar de esperto.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Quero

Quero
W.Faria

Quero tudo que se move,
Quero aquilo que rasga de paixão,
Quero a marca que o amor devolve,
Quero os búzios na palma da mão.

Quero assim, quero bem forte,
Quero de um jeito quase sem sorte,
Quero não deixar de querer a vida,
Quero desafiar a morte.

Quero o santo no meu leito,
Quero o chama que dança a seu jeito,
Quero o vento a baiar na cortina,
Quero a seda de um anjo no cabelo da menina.

Querer assim, quero muito,
Querer sem pudor, vagabundo,
Quero ter, sem ver e sem dar volta ao mundo,
Quer que queiram meu sagrado intuito.

Quero, por fim, me tornar parte de tudo,
Para que, enfim, me separe do mundo.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Salmos de vovó

Salmos de vovó
W.Faria

Ela acordou!
A novidade percorreu as linhas espiraladas do aparelho de telefone e me encontrou,
Homens e mulheres com olhos mareados, marujos da tristeza correram quando ela acordou,
Quando as mãos pareciam distantes e os lares afastados, entendemos que os corações sempre moram lado a lado e por todos os cantos ecoavam a noticia que havia chegado, ela havia acordado.

A reza e as luzes de fé a seguiram até que ela ficasse de pé,
As hastes que a seguram são feitas de mãos e ombros,
Removendo-a dos escombros frios e amontoados de doutores,
Os passos agora mais lentos, devido ao peso por ser quem é,
Sem mais sangue nos joelhos, orações e sonhos,
Sem mais o medo de brancos senhores,
Ela acordou e sabe quem ela é.

Hoje a vida recomeça, com um suspiro de doçura,
Como se o mundo voltasse a andar sua volta pesada,
Como sabiá que quebrou a asa,
Hoje, minha vozinha voltou pra casa.


Pela saída de minha avó e mãe do hospital.


sexta-feira, 24 de abril de 2015

Rezinha para bem querer

Rezinha para bem quererW.Faria
Te trouxe uma fita e uma reza,
Uma roupa pra mais tarde,
Um laço pra seu cabelo,
Uma vela pra maldade.
Te trouxe uma flor de um jardim roubada,
Te trouxe meu cheiro de alecrim,
Te trouxe um golinho de café,
Se não quiser, deixe pra mim.
Sabiá lá na goiaba,
Canta o pio de um amor,
Espia que logo acaba
Toda prosa de rancor.
Não liga pra pressa do mundo,
Fica bem devagarinho,
O sol, que faz sombra lá fora,
Só esquenta nosso ninho.
Te trouxe uma fita e uma reza,
Uma roupa pra mais tarde,
Um laço pro seu cabelo,
Que é da cor da minha verdade.

terça-feira, 14 de abril de 2015

Tiros na rua Emmet.

Tiros na rua Emmet.
W.Faria

Com notória sede por vingança ele a alvejou duas vezes, o primeiro lampejo de consciência em anos, uma, duas luzes. Rastros de pólvora pelo ar a se desfazer, assim como tudo que é sólido e se desfaz no ar. O corpo caído teve seus últimos trejeitos de vida, uma, duas piscadelas e revelou seu pálido hálito de morte. Ele, com um semi-sorriso, borboletou entre a viela e se sentiu em paz, caminhou lentamente enquanto limpava suas digitais da arma recém comprada de um garoto de treze anos.
Algumas pessoas do bairro chegaram até a janela para averiguar o som que rasgou a madrugada e lá estava figura dantesca, chapéu, capote preto, óculos escuros e um perfume que deixavam ébrios até os ratos do local, caída no chão, a jovem de pele rubra. O assassino, trajado de elegante terno
de linho cinza escapou pela última hora da madrugada, deixou para trás seus passos e uma silhueta que mais lembrava um lobo em meio aos arbustos.
[se foi]

sábado, 11 de abril de 2015

Nordeste beijo

Nordeste beijo
W.Faria

Rasgar a cara do asfalto
Com o peito movido de céu,
Rachar a curva da terra
Com os olhos varados de um réu,
Enevoar sete ares,
Esquecer de cada anágua,
Escurecer o sagrado,
Inundar cada cristo em água.

Nordeste-me um beijo seco,
Com as vozes do canavial,
Caravelas, cabelos soltos,
Pobres Dantes, afinal,
Cobriram-me sentimentos fúteis,
De um ouro marginal,
Arranquei a cruz do chão
E plantei o meu protesto,
Não aceito a solidão
Como soldo de um ladrão.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Nove Candeias

Nove Candeias
W.Faria

Eram novas as candeias durante esta manhã,
O vento as penteavam como quem penteia um filho,
Órfãos de maré, perpetuavam seus bailados suaves,
Nove candeias inertes, cujas chamas rompiam o silêncio
Em uma melodia quase inaudível de borbulhar de fogo.

A nona candeia se recostou em nobre leito e derramou-se em solidão,
A oitava lutava pela nobre arte de conseguir iluminar os pedidos de perdão,
Era a sétima, a candeia da imensidão, que trazia paz, carinhosa salvação,
Sexta era a candeia cujo pálido corpo pendia lá e cá, em comunhão,
A quinta candeia plácida, devorava-se ante a multidão,
Quarta candeia bela, bela de um douro suave, impelida de cantar,
Seus versos doces e vinagres,
Terceira e não mais distante, cadeia de retirante, uma lágrima de cera no chão, uma outra pintava a mão,
Segunda, a mais brilhante, a bela, candeia voraz, queimou todo seu brilho denso nas belezas temporais.

A primeira, a pequenina, a candeia de mais timidez,
A primeira, sem tanto brilho, sem branca aura, sem nitidez,
A primeira, que consumiu a luz do amor, dividiu-se em oito candeias,
Como fez o redentor,
A primeira, nobrezinha, cheia de sonho e de cor,
Se emudecia em seu canto, para dar voz ao seu louvor,
A primeira, candeia rubra, de sangue e de paixão,
Foi a única que persistiu até o final da procissão,
Tocou o chão, tocou o céu,
Queimou dedos, pés, papel,
Candeia mais jovenzinha,
Candeia de gente ao léu.

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Uma canção ao grande amor

Uma canção ao grande amorW.Faria
Para cantar ao grande amor é preciso um bocado de dor,
É preciso um choro constante para cantar ao grande amor.
Quando a lágrima está inerte os versos não aparecem,
É preciso mover-se líquido para surgir o intangível,
Lágrima que é lágrima só é boa quando precede o sentimento.
Para cantar ao grande amor é preciso ouvir com cuidado o som da noite,
Além de entender que as notas mais simples são as mais puras.
É preciso aprender que enquanto o pássaro cantar mais alto que suas palavras a canção será inaudível,
É preciso deixar seu coração gritar por meio da tua melodia.
Para cantar ao grande amor é preciso um bocado de paixão na voz,
Um bocado de dor no peito e um bocado de bem-querer no olhar.
Quando tudo estiver finalizado e os versos prontos em sua mente,
É preciso compreender que para fazer-se entender ao grande amor
Não é preciso ser musico, poeta ou fingidor,
Precisa-se apenas de um gesto com carinho de criança

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Queda

Queda
W.Faria

Sinto de súbito uma antiga vontade de viver. Algo não está no lugar, percebo as árvores, os pássaros e até mesmo os pequeno insetos, cujos ruídos eram outrora inaudíveis por mim. Sinto de súbito uma antiga vontade de voar, como se o horizonte não estivesse mais amarrado aos galhos do arbusto mais longínquo que posso enxergar. O horizonte de hoje é aquele que não se prende, é aquele que redesenho a cada passo que dou, um puro amor confortável me tomou as veias nesta manhã, notei um quadro que sempre esteve lá, na mesma parede, mal acabada pelo tempo e corroída pelas várias camadas de tinta. Quando olho com mais atenção sempre vejo pigmentos azuis, verdes, brancos e muitos outros em tons avermelhados, a parede da casa de meus pais se parece com a vida que sempre levei. Sinto também uma inconsolável vontade de me sentir amado, de ter os cabelos tocados por mãos suaves e o rosto acariciado por lábios. A vontade que tenho, pensei bem e percebi, é a mesma vontade daquele que salta de um penhasco rumo ao nada e do nada cria seu último instante de eternidade, este, sem saber se vive ou se morre, torna-se um voraz ser completo naquele minuto, é parte do ar, do mundo, se transforma a cada milímetro que cai em oxigênio. Talvez seja isso que tenha sentido ao acordar, oxigênio, uma calma que queima em labaredas em meu peito como quem incinera novamente as lenhas de uma antiga fogueira.

Hoje os pássaros me ensinaram novas melodias e pude notar nos olhos da criança que passou por mim enquanto caminhava a procurar um local mais fresco no qual pudesse repensar valores e tomar um pouco de ar. A criança passou, me olhou e continuou a correr, como se estivesse a me dizer que não se deve temer o desconhecido, não se deve temer a queda, pois ela caiu, uma lenta e dramática queda. Quedas como aquela não se devem ser ignoradas, mas a contrariar todas as leis da natureza de nossas preocupações sociais, a criança ignorou a queda e se reergueu, continuou a correr e caiu novamente. Acreditei naquele instante ter visto um ensinamento delicado de um ser singelo, a queda só é queda quando é vista como queda, pois daquele instante até o resto de minha vida, todas as minhas quedas serão vistas como uma nova oportunidade de me reerguer.

Sinto de subito uma antiga vontade de correr de amar e ser amado, se me tornar eterno, hoje sinto que a eternidade já chegou em meu olhar, dormiu comigo e me viu sair pela porta com um sorriso doce nos lábios. Hoje sou mais que um simples movimento, hoje sou queda.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Canto A2

Canto A2
W.Faria

Quando o dia tarda seu negrume,
Seu olhar de mágoa, como era de costume,
Faz de rio o pranto e de balsa faz meu canto,
Esta cicatriz na qual navego é meu ponto de equilíbrio,
Ponto cego.

Traz a paz que imploro e que trazia,
Sob o manto inteiro de tuas mãos,
Cinco sentimentos com os quais vivo momentos,
Sete mares e uma só desilusão.

Canto o meu canto e te peço,
Peço e impeço o peito de partir,
Fica mais um pouco eu confesso,
Que um canto a dois há de servir.

Canto o meu canto e te imploro,
Fica com teu peito perto assim,
Cola teu sorriso em minha boca,
E prometo à tudo dizer sim.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Eu Prometo

Eu Prometo
W.Faria

Prometo não julgar meus atos com a veracidade de meus sonhos,
Prometo não sonhar tao baixo a ponto de poder tocar os pés no chão,
Prometo nao sentir tristeza quando remoer de dor minhas lembranças,
Prometo não sofrer de amor.

Prometo ser feliz agora e se não for agora ser feliz já basta,
Prometo não aceitar a fumaça,
Prometo ter paciência e paz, mas se estas vierem alteradas prometo aceitar o tempo de cada uma delas,
Prometo não calar a dor,
Prometo não sofrer de amor.

Prometo ter os olhos sempre no hoje mas com o pensamento no amanhã,
Prometo falar tudo que penso mas se não conseguir e me escaparem as palavras, prometo esperar meu momento,
Prometo plantar flores e aprender com elas, prometo sempre buscar a cor,
Prometo não sofrer de amor.

Prometo, por fim, ser pura e calma constância de plácido lago e se, um dia, enervarem-se as águas, prometo esperar a onda se extinguir para que, pensativa na beira de mim mesma possa olhar para tudo que fiz e não me arrepender.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

As Flores de Monet

As Flores de Monet
W.Faria

Sonho um dia ter as belas nuvens frias
Que o sol tocou de leve,
Ter em mente o claro e douro
Alvorecer dos retirantes,
A certeza do bom tempo,
A razão dos imigrantes.

Sonho antes ser qual a flor
Que te mira reto a fronte
Ser certeza, bem querer,
Ser sutil e delicado,
Ser só arte, sem querer
Como flores de Monet,
Ser robusto, afiado,
Ser-não-ser e ser gigante.

Sonho a balsa,
Sonho intenso,
Sonho dança e movimento,
Sonho um dia acordar
Em colorido campo,
Sonho doce em ser risonho,
Sonho então poder notar 

Que é verdade e não só sonho.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Enquanto houverem estrelas.

Enquanto houverem estrelas
W.Faria

Hoje o céu acordou mais cedo,
Clamou o nome dos amantes,
Neblinas turvas e conselhos dos ventos
Assopram-me os ares "vem"
E eu vou.

Hoje a lua tem um tom avermelhado,
Repare o cobre acentuado,
E brilha como se não pudesse mais brilhar
As aves que se arriscam pela madrugada
Logo se amedrontam e voltam ao lar,
Essas aves me chamam "vem"
E eu vou.

Dentro de meus pastos interiores
Existem ninhos e flores,
Existem cascatas e dores
Geladas corredeiras de neve
Que é para onde viajo quando meu peito se atreve,
Atrevo-me a reconhecer meu interior cada dia mais,
Chamo-me "vem"
E eu vou.

Vou, pois sei que ainda existe um lugar
Sei que posso encontrar em mim um berço,
Um terço para rezar, um abrigo para voltar,
Vou, pois sei que os sonhos são gestos de ternura,
Devaneios de loucura e quando pinto meus céus,
Meus véus, minhas paisagens, nunca me esqueço
que um dia tudo isso será apenas uma imagem,
Mas vou, enquanto houverem estrelas a descobrir,
Quero vagar por um céu que ainda não conheci.




quinta-feira, 5 de junho de 2014

A complexidade das pessoas esta diretamente ligada ao sendo analítico que possuem, é através dele que estas mesmas pessoas transformam seu raciocínio calcado em lógica em novos sentimentos, entendendo sentimentos como a elipse que compreende dores e prazeres, sorrisos e raivas, todo esse pacote de emoções se chama sentimento e com ele não se pode brincar, afinal, aquilo que sentimos esta sempre certo, acredite no que sente. Os olhos humanos são incapazes de detectar inúmeras coisas, porém, a mente sempre reage conforme o estimulo, mesmo que seja invisível aos olhos portanto, acredite no que sente, bom ou mau é verdadeiro, acostume-se.


quarta-feira, 14 de maio de 2014

A boodega de Zé capenga

A boodega de Zé capenga
W.Faria

“Quarta feira enluarada,
Não é hora de resolver pendenga”
Era assim que a moçada
Tentava acabar com a briga,
Que com força se aprumava,
Se pegava em estrovenga,
Revolver e pontapé,
De garrafão ali cantava,
Tamborete e até viga.
O que acontece foi que Tião
Irmão de Zé capenga
Tomou um pifão arretado,
Babou no grandalhão
Que era irmão do delegado
E não é que o grandalhão
Pra piorar o recado
Revelou a novidade,
O coitado não era gago!?
Pois Tião, meio aluado,
Pediu desculpa e se foi,
O gago grandão desletrado
Foi logo sacando a arma
Que ele trazia com ele,
Presenteada pelo irmão
Lustrada com cera de abelha
Com coronha de cor limão,
Eta armazinha mais tronxa.
Tião já longe trupicava,
Dada empurrão em freira,
Xingava cachorro na feira,
Tombava pra todo lado,
Até que ouviu um sujeito
Que falava engraçado
E o sujeito dizia
Com um olhar meio assustado:
“ômi, oce CE CE CE...”
- Ceará!?!? Tião perguntou de pileque
“que que que ceará o que que “
Mas eita cabra da gota,
Ta me achando que sou três?
De certo fala comigo e repete mais duas vez,
Quem sabe ta mau das vista,
Ou até vendo fantasma,
Eu não vou nem retrucar,
Vai que o pobre sofre de asma.
E o grande babado nas venta
Retrucava com o revolver na mão tremelicando,
“eu vo vo vo te mata ta ta ta”
E Tião abilolado que só,
Retrucou com o gago matuto
“ Seu moço, veja só,
Não to entendendo é nada
Será que me chama de vô?
Por falta de sua família?
Venha cá, te dou um abraço,
não há um verso que diz
que todo mundo é uma ilha?”
Ouvindo as palavras doces
De Tião Ferreira da Cruz,
O matuto gaguejou,
Que chegava a lagramiar,
Virou as costas e se foi,
Deixando o assunto pra lá.
Tião, com cara de sabido,
E cachaça nas ventoinhas
Pensou com seus miolos,
- Que sina estranha essa minha,
Cuidando do porre dos outros
E da saudade da família
Sorte que sou mais esperto
Que nem um galo de rinha,
Escapo de qualquer desavença
Mesmo babando nos outros,
Trupicando em freira e frei,
E aliás pelo que sei,
Não gosto é de violência,
E quarta-feira enluarada,

Não é hora resolver pendenga.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Romance para Violino

Romance para Violino.
Khristopher W.F.

Ela mora perto de um jardim, tão perto que às vezes acho que ela mora dentro deste jardim. Sempre vou até sua casa, sempre a tardinha, quando o sabiá já parou de cantar mas as vezes noto um ou dois colibris pertinho da sua casa, sempre tem alguém sorrindo por ali. Passo por três ruas antes de chegar até lá, cumprimento um ou dois moradores e entro em uma outra rua que tem um beco, gosto de becos. A travessia que dá acesso à sua casa é perigosa e sempre atravesso bem atento, tem sempre máquinas na pista ou homens em obras, os cumprimento também.
Quando chego perto posso ouvir o latido de alguns cachorros que moram por ali, são de uma senhorinha bem senhorinha que espia pela janela sempre que estou por perto, me sinto um artista. O sol logo vai embora e a cena muda consideravelmente, se torna rapidamente avermelhada, assim como ficam minhas bochechas quando sei que ela esta descendo as escadas, ela sempre as desce uns vinte ou trinta minutos depois do horário combinado, acho um charme.
Ela chega com uma cara de que nada aconteceu e no fundo se crucifica pelo atraso, eu não ligo, juro que não ligo, considero uma verdade inegável o fato de que algumas pessoas podem se dar ao luxo de chegarem atrasadas, como a noiva no altar e...bom, na verdade acho que só a noiva pode chegar atrasada e ainda assim ser elegante, a noiva e ela, que chega sempre como um passarinho, suave, com aquele sorriso embebido em batom.
Romance para Violino nº 2 fica sendo repetindo em looping em minha mente enquanto tento entender como é que um ser pode ser tão lindo e ainda assim estar vivo, lembro-me de ter visto musas em quadros tão antigos que quando eu nasci os pintores já não estavam mais vivos. O fato é que escuto a musica e ainda assim posso ouvir tudo que ela diz, na verdade ouço aquilo que ela diz, o que as velhinhas sussurram nas janelas, ouço os cachorros a latir, o gato a miar e até as asas da coruja buraqueira que um dia assistimos voar e pousar em galhos secos de uma árvore que nasceu em um barranco amarelado pertinho de um rio. Sempre caminhamos juntos pela madrugada e caminhar pela madrugada nunca me pareceu tão elegante, de um perigo tão adocicado que não dá medo de correr.
Ela tem cabelos de noite e um olhar da cor do sol, consegue guardar dois ambientes completamente diferentes dentro de si. Quando ela sorri, eu também sorrio, primeiro porque adoro o som de sua gargalhada e depois não sei explicar porque, talvez eu queira sorrir por não acreditar no que acontece.

Ela mora perto de um jardim, tão perto que ainda não sei se ela mora dentro ou fora dele e na verdade não faz diferença porque enquanto eu viver vou querer criar jardins em todos os lugares pelos quais passarmos. As flores terão inveja, assim como muitas pessoas, mas é fácil compreender o motivo, ela é um novo continente, tanto que às vezes me sinto Colombo, até nas roupas me pareço com ele, menos na soberba e pedantismo, tenho pra mim que Colombo era um pau mandado e eu não sou, só vou onde quero ir e na verdade só vou ao encontro daquilo que me desperta interesse ou vontade, como o canto dos passarinhos, as flores novas na primeira semana da primavera, isso tudo me desperta interesse e ela, ela me desperta mais que isso, ela me desperta poesia.