Flor da Candeia
Wesley Faria
Na acinzentada lua branca,
uma luz toca o chão frio da varanda
A cadeira debaixo da janela,
umas roupas no varal,
Um livro de nietzche,
um de bretch ou de suassuna,
não consigo ver direito o autor,
Aqui deste quintal,
Aliás, não sei nem se nietzche existiu de fato,
Já Cancão, Zé da Luz e Suassuna eu garanto o relato.
A luz vinha de leve e temperava a plantação,
Enquanto o café bulia o cheiro da paz feita a mão,
Um perfume de flor branca me arrancava do chão,
Escrevia verso e poesia, na mente, no peito e na mão,
via a cor da luz do dia, No meio da noite, bem no vão.
A casa, de escura se transformava,
Quando ela, devagar, passava,
Do quintal eu posso ver,
Luzes feito asas saindo de suas costas,
Uma saia engomada, com fitas brancas bem postas,
E Um andar assim macio, feito orvalho na roça,
Eu de longe espiava, que era pra não ser notado,
Afinal nunca deu em coisa boa, espiar envergonhado,
Para espiar é preciso ter coragem,
Pois se tudo der certo como é que se vai fazer?
Não se pode deixar a ocasião, aos poucos covalecer,
Então para olhar ligeiro, mesmo assim sorrateiro,
É preciso muito mais peito do que galo de terreiro.
Ainda mais para espiar uma moça tão distinta,
Que merece só se olhar,
Pra tocar com a mão já grossa de tanto trabalhar,
É preciso botar luva, pra sua pele não arranhar
Mas a moça ia e vinha, acho até que se engraçava
Pra um moço mieo sonhador que de longe a observava.
Eu, tremendo de tanto frio, ou de tanto medo mesmo,
Não consegui manter o semblante de homem caminhante,
Que não estava observante, tava mesmo só passante.
Enquanto eu me aprimava, a lua se apagou,
Feito nuvem que se vai e a moça se adentrou
na casa de vosso pai,
Todo dia eu espiava, quando voltava do trabalho,
procurando aquela moça, aquele cheiro, naquele horário,
Nunca mais eu vi a moça, Nunca mais o cheiro bom,
Nunca mais a luz da lua, nunca mais o velho tom,
Mas quem sabe ela volta um dia, com sua pele macia
e seu cheiro de flor, seu andar ajeitado,
que me carrega por onde for,
E resolve dar uma olhada,
pra esse jovem escritor.
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