sexta-feira, 24 de abril de 2015

Rezinha para bem querer

Rezinha para bem quererW.Faria
Te trouxe uma fita e uma reza,
Uma roupa pra mais tarde,
Um laço pra seu cabelo,
Uma vela pra maldade.
Te trouxe uma flor de um jardim roubada,
Te trouxe meu cheiro de alecrim,
Te trouxe um golinho de café,
Se não quiser, deixe pra mim.
Sabiá lá na goiaba,
Canta o pio de um amor,
Espia que logo acaba
Toda prosa de rancor.
Não liga pra pressa do mundo,
Fica bem devagarinho,
O sol, que faz sombra lá fora,
Só esquenta nosso ninho.
Te trouxe uma fita e uma reza,
Uma roupa pra mais tarde,
Um laço pro seu cabelo,
Que é da cor da minha verdade.

terça-feira, 14 de abril de 2015

Tiros na rua Emmet.

Tiros na rua Emmet.
W.Faria

Com notória sede por vingança ele a alvejou duas vezes, o primeiro lampejo de consciência em anos, uma, duas luzes. Rastros de pólvora pelo ar a se desfazer, assim como tudo que é sólido e se desfaz no ar. O corpo caído teve seus últimos trejeitos de vida, uma, duas piscadelas e revelou seu pálido hálito de morte. Ele, com um semi-sorriso, borboletou entre a viela e se sentiu em paz, caminhou lentamente enquanto limpava suas digitais da arma recém comprada de um garoto de treze anos.
Algumas pessoas do bairro chegaram até a janela para averiguar o som que rasgou a madrugada e lá estava figura dantesca, chapéu, capote preto, óculos escuros e um perfume que deixavam ébrios até os ratos do local, caída no chão, a jovem de pele rubra. O assassino, trajado de elegante terno
de linho cinza escapou pela última hora da madrugada, deixou para trás seus passos e uma silhueta que mais lembrava um lobo em meio aos arbustos.
[se foi]

sábado, 11 de abril de 2015

Nordeste beijo

Nordeste beijo
W.Faria

Rasgar a cara do asfalto
Com o peito movido de céu,
Rachar a curva da terra
Com os olhos varados de um réu,
Enevoar sete ares,
Esquecer de cada anágua,
Escurecer o sagrado,
Inundar cada cristo em água.

Nordeste-me um beijo seco,
Com as vozes do canavial,
Caravelas, cabelos soltos,
Pobres Dantes, afinal,
Cobriram-me sentimentos fúteis,
De um ouro marginal,
Arranquei a cruz do chão
E plantei o meu protesto,
Não aceito a solidão
Como soldo de um ladrão.