Trovão no pé e serra
Wesley Faria
Rasgou o céu e se escondeu,
Rasgou o céu e se fez de sonolento,
Se embrenhou por trás de uma nuvem e dormiu.
Olha! Outra vez,
A claridade salpicada pelas gotas de chuva,
Que confundem luz e sombra pelo chão.
O Som do coração de Deus,
Ou o som do estômago do cão.
Vejo um bicho que passa ligeiro,
Aparece no nevoeiro,
Se sustenta em branca luz,
E logo se apaga feito o feixe que o fez jus.
Vejo roupas no varal,
Vejo romper o bucho do temporal,
E o sangue da nuvem descer,
Se contorcendo até meu quintal.
O som que assovia no lajedo,
É canção pra quem sente medo
É oração pra quem reza em segredo,
Seu pedido de redenção.
Rasga o céu e se emaranha,
Pela terra, traz vida em barulho de guerra,
Traz meu corpo pra mais perto do chão,
Sinto o cheiro adocicado
Do teu peito acelerado
Feito som de percussão.
Se aquieta aqui no ombro,
Te penteio com meus dedos,
Te aconchego ao pé d'ouvido
E te digo que a vida,
É maior que a escuridão.
Feito a noite que vem corrida,
Como o fogo que trucida,
Quando o raio toca o chão,
Pode ser que mate aos poucos,
Pode ser que mate logo,
Mas a vida é um pé de serra,
Que se treme com o trovão.
Se aquieta aqui no ombro,
Espera o tempo virar,
Te escrevo feito um conto,
E reinvento esse lugar,
Te descrevo cada canto,
Te desenho todo o encanto,
Que você puder se lembrar,
Depois quando o lampião acender,
E aos olhos iluminar,
Te asseguro, você vai ver,
Vai preferir apagar.
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