quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Flor de Pé de Serra

Flor de Pé de Serra
Wesley Faria

Foi lá num pé de serra que eu vi a flor se apousar,
Foi de dentro pra fora que eu senti a luz brotar,
A roda da saia, o pé no terreiro, o broto na terra e meu joelho no chão,
Eu acertava meu tempo pra cruzar com o dela,
Eu lumiava a lamparina pra poder desescurecer,
E escurecia a noite pra poder ninguém nos ver.

A cigarra já desistia de cantar seu solo,
Viu logo que eu não ia embora, e lá fiquei,
Eu esperei a flor brotar, se erguer,
E dançar penduricalhada em seu próprio sonho,
Quando o sol se jogou por trás do morro esverdeado,
Que mais parecia pintura, era um morro que só almofada de doutor,
Feita de linho branco com estampa de cor, coisa linda que só.

Quando o sol despencou na terra o sabiá deu lugar ao curió,
Pois o véu que ia chegar precisava de um canto pra embalar.
E a flor que dançava sorrindo, logo ficou quietinha,
Sentindo a brisa vindo, concentrada que só vó temperando ceia,
A chuva lavou a terra de mansinho, a terra tremeu agradecida,
Logo criou nova vida e foi ela, a vida, que me apresentou a estrada,
O musgo, o mangue, a vida que me apresentou o sangue,
O sangue que jorra na tina e que suja a batina.

E eu que estava ali só para observar a flor,
Logo fui embora pra poder anotar tudo que vi,
E um dia, contar pros netos,
Que eu vi uma flor sorrir.

Um comentário:

  1. Como disse antes, no face, sua poesia tem cheiro, gosto e cor. Estou encantada. Abraço!

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